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“Feed Zero”: entenda os perfis vazios da Geração Z no Instagram

“Feed Zero”: entenda os perfis vazios da Geração Z no Instagram 

Conectados desde cedo, jovens adotam tendência do “feed zero” buscando privacidade, refletindo preocupações com autoimagem, saúde mental e evitando a superexposição nas redes sociais 

Você já deve ter seguido alguém no Instagram e, ao entrar no feed da pessoa, deu de cara com um perfil vazio, ou com quase nada, certo? Pois entre os internautas que possuem entre 12 e 27 anos – ou seja, pertencem à Geração Z –, essa é uma tendência em alta, que vem sendo chamada de “feed zero” ou “grid zero”, e tem a ver com o modo como os mais jovens protegem sua privacidade e sua saúde mental na internet. 

A discussão começou a ganhar a mídia em abril deste ano de 2024, quando Bobby Allyn, colunista da National Public Radio (NPR), escreveu artigo sobre a tendência, chamando-a de “Grid Zero”. Para Allyn, enquanto a geração anterior, dos millenials, cresceu documentando suas vidas online, a Geração Z busca formas de “escapar do brilho sempre presente de ser publicamente registrado nas mídias sociais”.  

👉 Para entender mais sobre o peso das mídias sociais na estruturação do mundo atual, vale ler o post “A era da hiperconexão: desafios da comunicação no mundo líquido”

Em termos práticos, a tendência do “feed zero” consiste em manter os perfis praticamente vazios ou sem publicações. Para muitos adeptos, a prática livra o internauta da pressão de manter uma presença digital impecável ou de se conformar a padrões estabelecidos por influenciadores e marcas. De quebra, o comportamento permite que os usuários moldem suas narrativas digitais de forma mais intencional e menos reativa. 

“Feed Zero”: entenda os perfis vazios da Geração Z no Instagram

Além desses pontos, em um ambiente onde o desempenho das publicações é avaliado por métricas como curtidas, comentários e compartilhamentos, muitos jovens optam por esvaziar seus feeds para evitar comparações ou julgamentos externos. Confira abaixo outras razões possíveis da nova tendência. 

Motivos que levam a GenZ a aderir ao “feed zero” 

  • Busca por privacidade: reduzir a exposição pessoal e manter o controle sobre quem tem acesso a informações e imagens. 
  • Resistência à pressão social: evitar a necessidade de manter uma estética ou narrativa impecável no feed. 
  • Minimização da ansiedade: reduzir o estresse associado a métricas como curtidas e comentários. 
  • Controle sobre a narrativa pessoal: publicar apenas conteúdos que realmente importam ou que sejam autênticos. 
  • Minimalismo digital: adotar uma abordagem mais simples e focada na qualidade, em vez da quantidade. 
  • Resistência ao julgamento: evitar comparações e críticas que possam surgir de postagens públicas. 
  • Autenticidade: focar em interações genuínas em vez de alimentar uma “persona” online irreal.  

Saúde mental pode ser principal motivo 

No mundo todo, estudos vêm mostrando que as redes sociais têm um papel significativo na saúde mental dos jovens. No caso do Brasil, pesquisas recentes jogam luz sobre essa influência, trazendo sentido aos movimentos de diminuição ou de mudança no formato de uso das redes sociais.  

O estudo “Saúde mental: os impactos das redes sociais no desenvolvimento dos jovens brasileiros“, publicado na RevistaFT em setembro deste ano, destaca que o uso excessivo dessas plataformas está associado a problemas como ansiedade, depressão e baixa autoestima.  

De acordo com o estudo, a constante exposição a padrões idealizados e a pressão para manter uma imagem perfeita podem amplificar questões emocionais, especialmente em jovens com vulnerabilidades pré-existentes. O estudo sugere a necessidade de estratégias de conscientização e regulação do uso das redes sociais para mitigar esses efeitos adversos.  

“Feed Zero”: entenda os perfis vazios da Geração Z no Instagram

Complementando essa perspectiva, a pesquisa “Percepção de Jovens Brasileiros sobre as Repercussões das Redes Sociais na Subjetividade“, publicado na revista “Psicologia, Teoria e Pesquisa” revelou já em 2021 que as redes sociais influenciam significativamente a concepção de mundo e de si mesmos entre os jovens.  

De acordo com os pesquisadores, as redes sociais promovem a disseminação de imagens e estilos de vida idealizados que podem não ser alcançáveis na vida real. Isso leva à comparação constante, impactando negativamente a autoestima e gerando sentimentos de inadequação e insatisfação pessoal. Confira abaixo, alguns pontos críticos trazidos pelo estudo. 

Fatores das mídias sociais negativos para a saúde mental 

  • Dependência e recompensas imediatas: o design das redes sociais estimula o comportamento de busca por validação, como curtidas, comentários e compartilhamentos. Essa dinâmica gera dependência emocional e pode resultar em frustração e ansiedade quando as expectativas de engajamento não são atingidas. 
  • Sobrecarga Informacional: a exposição contínua a um fluxo de informações, notícias e opiniões pode causar estresse cognitivo e emocional. Jovens frequentemente relatam sentir-se oprimidos e incapazes de lidar com a quantidade de informações consumidas. 
  • Cultura da vigilância e pressão social: nas redes sociais, há uma sensação constante de estar sendo observado e julgado, o que aumenta a pressão para manter uma imagem impecável. Essa vigilância impacta a liberdade de expressão e a espontaneidade, resultando em maior ansiedade. 
  • Desenvolvimento de FOMO (Fear of Missing Out): o medo de estar perdendo algo importante ou não participar de eventos sociais exibidos nas redes pode intensificar a sensação de exclusão e inferioridade, agravando problemas como ansiedade e depressão. 
  • Alteração na percepção de tempo e realidade: o uso excessivo das redes sociais pode distorcer a percepção da realidade, levando à negligência de atividades offline e relacionamentos presenciais, essenciais para o bem-estar psicológico. 

A pesquisa sugere que essas plataformas, por influenciarem diretamente na subjetividade dos jovens, precisam ser usadas com maior consciência. Estratégias como educação midiática, incentivo a períodos offline e estímulo à reflexão crítica sobre os conteúdos consumidos são fundamentais para reduzir esses impactos negativos e promover uma relação mais saudável com o ambiente digital. 

Tudo isso leva a crer que parte da GenZ, mais uma vez, assim como em outras áreas, sai na frente e está construindo novas formas de ter saúde mental, vivendo no mundo louco herdado dos millenials e gerações anteriores. 

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